Armando de Castro       

Reflectir criticamente sobre a sociedade e o conhecimento

Na Universidade obteve uma formação histórica e jurídica e aprendeu junto a reflectir criticamente sobre a sociedade e o conhecimento. Estas linhas de rumo marcaram todo o seu percurso de cidadão e de cientista.

Sendo incapaz de responder negativamente a um qualquer convite que lhe fosse feito, sempre afável, conciliador e de uma grande lucidez sobre as situações, encontrava a sua plena satisfação na investigação científica, no desbravar de novos conhecimentos e na confrontação dos resultados obtidos com o público a quem dedicava o seu esforço: os cidadãos do seu país, os que todos os dias tinham que trabalhar para obter a sua sobrevivência.

A glória que alguma vez procurou foi fazer passar as suas preocupações, as suas problemáticas, as suas investigações e as conclusões a que chegava.

Os seus trabalhos mais notáveis desdobram-se por três áreas científicas: a História, sobretudo a História Económica, a Economia Política e a Gnoseologia e Epistemologia.

Com uma confiança inquebrantável nos horizontes infinitos da ciência - ao ponto de sempre ter desejado fazer o conhecimento científico da filosofia - deixou uma obra impar que ultrapassa seguramente as quinze mil páginas. Na história sistematizou, em mais de uma dezena de volumes, os séculos XII a XV e elaborou muitos outros trabalhos sobre o período restante, com particular destaque para os séculos XIX e XX, tendo sempre a perspectiva de fazer uma história económica completa de Portugal.

Na Economia Política, trabalhou alguns dos temas mais árduos dos seus fundamentos teóricos, tendo sido um dos pioneiros em Portugal no tratamento sistemático da teoria do valor, e fez muitas análises aplicadas a problemáticas e situações do momento, tendo marcado uma época os seus estudos sobre a inflação.

A Epistemologia, entendida como ciência do conhecimento científico, esteve sempre presente nos seus trabalhos de investigação. Ao fazer a história da Idade Média interroga-se sobre os rumos da investigação a fazer; ao estudar o fundamentos da Economia Política encontra as mesmas problemáticas. Mas é com o início da redacção e publicação, parcial, de um conjunto de obras sobre teoria do conhecimento científico que vai procurar sistematizar as suas reflexões sobre este conjunto de temas.

Em todos estes caminhos sempre esteve a par do que em Portugal e no Mundo se fazia sobre as problemáticas em que trabalhava, estando sempre aberto ao novo.

Também soube granjear reconhecimento internacional, embora a sua modéstia, a redacção de quase todos os seus trabalhos em português e o público a que privilegiadamente se dirigia o tivesse limitado nesse reconhecimento.

Os nossos hábitos científicos exigem-nos falar em áreas científicas trabalhadas por Armando Castro, mas uma grande parte da sua actividade foi desconstruir essas fronteiras. Amante de diversas ciências, a tendência dominante no seu trabalho científico foi mais interdisciplinar que disciplinar. A Epistemologia funcionou sempre como o caminho científico de juntar diversas pontas trazidas por várias ciências para tecer uma malha complexa capaz de uma leitura integrada do Homem.

Portugal deve-lhe muito e pouco lhe deu. As dificuldades do exercício de uma carreira profissional a seu gosto durante o fascismo e alguns obstáculos após o 25 de Abril demonstram-no cabalmente. A atribuição do título de Professor Catedrático por reconhecimento da sua obra é pouco.

A cidade do Porto não fugiu à regra.

Num ano de exaltação da cultura portuguesa e nortenha, de reconhecimento das artes e das ciências aqui construídas, a obra de Armando de Castro surge como um exemplo ímpar, pelo que se impõe a sua divulgação, como se propõe no presente projecto:

- organização do espólio documental;

- Edição completa das suas obras (reedição de algumas e edição de trabalhos nunca publicados), com biografia e enquadramento de textos.

- Conferência Internacional: História e Sociedade Actual;

- Conferência Internacional: Epistemologia e o Futuro das Ciências do Homem.


Ruy Luís Gomes
Óscar Lopes




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