Arquitectura

A LONGA QUERELA DA ARQUITECTURA PORTUENSE – 1867-1933 / SESSÃO COM JOSÉ PEDRO TENREIRO

Após um longo período marcado pelo reduzido número de projectistas no campo da edificação urbana, nos finais do século XIX verifica-se um significativo aumento do número de arquitectos activos no Porto.
É no contexto da partida dos primeiros pensionistas em arquitectura da Academia Portuense de Belas Artes para Paris, em 1867, que se instala no panorama cultural portuense um forte confronto entre diferentes modos de entender a arquitectura enquanto disciplina e enquanto forma de construir a cidade.
Este confronto manifesta-se tanto no processo de experimentação técnica e formal por parte de cada interveniente como através da constituição de diferentes clientelas, também elas reflexo dos diferentes ramos da sociedade portuense.
O atrito entre os dois diferentes grupos profissionais constituídos assume especial destaque entre 1910 e 1933, data em que passa a ser obrigatória a reunião dos arquitectos portugueses num único grupo associativo, o Sindicato Nacional dos Arquitectos, antecessor da actual Ordem dos Arquitectos.

Para debater esta importante querela, a Direcção da UPP e o Arq. José Pedro Tenreiro têm o prazer de convidar os associados e alunos da UPP e o público em geral para uma sessão aberta na sede da UPP no dia 18 de Junho, às 18H30.

Data: 
Terça, Junho 18, 2019 - 18:30

Conferência de Ricardo Ruivo: Ideologias Arquitectónicas na Revolução de Outubro - A vanguarda cultural e a arquitectura do socialismo real

No dia 6 de Novembro, segunda- feira às 18 horas na UPP, será proferida por Ricardo Ruivo, uma conferência sobre

Ideologias Arquitectónicas na Revolução de Outubro - A vanguarda cultural e a arquitectura do socialismo real

A entrada é livre

"É uma afirmação consensual que no seguimento da revolução de Outubro de 1917 o ímpeto da construção de uma sociedade nova despoletou uma explosão de novas formas de expressão artística em todas as áreas. A geração de uma vanguarda artística e cultural transformou de forma radical a própria noção de arte e seu funcionamento na sociedade, eliminando ideias burguesas de autonomia disciplinar e imbricando a produção artística num processo mais amplo de transformação cultural e militância política. Arte e propaganda revolucionária seriam sinónimos.
O que não é igualmente consensual é que esta relação intensa entre arte e política não foi, durante todo o processo revolucionário e de estabilização de um estado socialista, um dado pacífico e não-problemático. A forma como a revolução cultural se vinculou à revolução política foi complexa e cheia de contradições, sendo marcada por um debate permanente e extremamente intenso, em que ideias divergentes se combatiam visceralmente. A história das vanguardas soviéticas tende a ser contada como uma história de objectos artísticos que, na sua originalidade histórica, ainda marcam os dias de hoje. Mas tão ou mais importante que esses objectos são, em grande medida, os debates profundos sobre como a arte e a acção social e política podem e devem interagir, debates cujas implicações tendem a escapar ao entendimento mesmo dos mais informados historiadores.
Esta apresentação vai focar-se nestes debates e sua articulação com a história dos objectos assim como com a história do desenvolvimento do estado soviético. A dedicação artística à transformação social foi de tal maneira profunda que, menos de uma década passada da revolução de Outubro, a quase totalidade da produção artística tinha migrado das artes visuais para a arquitectura, cujo lugar específico entre as chamadas artes liberais é indiscutivelmente mais próximo do problema da organização das relações sociais. O nascimento do conceito do “condensador social”, ideia mestra do grupo construtivista OSA, manifesta de forma radical a expansão da arquitectura como disciplina que, de arte que meramente expressa determinadas relações sociais, passa a actividade planeadora, directamente condicionadora, dessas mesmas relações, no que deve ser entendido como a deslocação de uma actividade artística daquilo que no entendimento marxista das estruturas sociais é a super-estrutura da sociedade, para a infra-estrutura da sociedade.
Enquanto que isto não pode deixar de ser entendido como uma das ideias mais progressistas na história do pensamento arquitectónico, é uma ideia que abre uma caixa de Pandora que continua hoje por resolver na forma como a relação entre vanguardas culturais e vanguarda política pode ser entendida. Em grande medida, um conflito latente entre as duas marca toda a história da evolução do pensamento socialista desde o século XIX, e as contradições intrínsecas ao vanguardismo cultural marcam também a história da arquitectura soviética. Estas contradições vãos sendo articuladas politicamente ao longo do tempo, dando origem a soluções que as vanguardas culturais da época não esperavam, e que as vanguardas culturais de hoje denunciam como tradicionalistas e reaccionárias. De facto, as soluções arquitectónicas “realmente existentes”, particularmente as associadas ao período dos primeiros planos quinquenais, são muito mais complexas e subtis que a percepção contemporânea dominante é capaz de atingir, e longe de representarem um corte autoritário com a prática vanguardista, são sim o produto do conjunto de transformações que esta prática sofreu na adaptação às condições que a história impunha."
Ricardo Ruiva

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